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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

.“sim, senhor”/”sim, senhora” com vírgula... ou talvez não!

Imagem encontrada AQUI.

A. Transcrevo extratos de uma interessante troca de argumentos, em http://linguagista.blogs.sapo.pt/279240.html, acerca da necessidade de haver ou não vírgula nesta frase antes de "senhor":
“Não está errado, não, senhor, mas dantes só se ouvia e lia necessidades fisiológicas.”
1. “(…) «senhor» não é aqui um vocativo. «Não senhor» é um reforço de «Não». Daí que se possa dizer «Não senhor» ou «Não senhora» indiferentemente do sexo do concernido, tendo das duas formas a segunda a maior «força». O mesmo vale para «Sim». (…) lembro que em inglês se diz, tranquilamente, «Yes sir!» a uma senhora. Lembro-lhes também que a interjeição espanhola «Hombre!» não significa 'homem', mas «OK», «Bom», «Se calhar tens razão».” (internauta Venâncio).
2. Uns posts mais abaixo, a internauta Eugénia apresenta dois extratos de textos onde surge “sim/não senhor”, mas sem vírgula.
a) Almeida Garrett, "Viagens na Minha Terra", cap. 5.:
Trata-se de um romance, de um drama - cuidas que vamos estudar a história, a natureza, os monumentos, as pinturas, os sepulcros, os edifícios, as memórias da época? Não seja pateta, senhor leitor, nem cuide que nós o somos. Desenhar caracteres e situações do vivo na natureza, colori-los das cores verdadeiras da história... isso é trabalho difícil, longo, delicado, exige um estudo, um talento, e sobretudo um tato!...
Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico.
b) Júlio Dinis, "As Pupilas do Senhor Reitor", cap. 3.:
- Muito boas tardes, tia Bernarda. Diga-me, viu passar por aqui o pequenito do José das Dornas?
- Nosso Senhor venha na companhia de Vossa Senhoria. Pois nada, não senhor, Senhor Reitor. O rapazito passava dantes por aqui todas as tardes; mas haverá coisa de quinze dias, ou três semanas, que já o não tenho visto.
[…]
- Sabe me dizer, tio Bonifácio, se o pequeno do José das Dornas passou há pouco tempo por aqui?
O velho, já meio surdo, fez repetir a pergunta em tom mais elevado, e depois dum momento de silêncio, durante a qual pareceu interrogar a memória, já perra e enfraquecida.
- Sim senhor, vi - respondeu, acenando afirmativamente com a cabeça - Vi sim senhor. Passou aqui com os bois, há meia hora.

CONCLUSÕES:
Portugal (norma luso-afro-asiática) e Brasil (norma brasileira)
1. Numa situação de comunicação, como fórmula de cortesia, é obrigatória a vírgula em “sim/não, senhor(a)” e “sim/não, senhores/as”, pois o segundo elemento é um vocativo.

Exemplo: “Não, senhoras, não podem sair antes do fim do turno.”
2. Quando o segundo elemento não é um verdadeiro vocativo, sendo apenas um reforço do sim/não, exprime ironia ou espanto ou é sinónimo de de “sem dúvida!”, “claro que sim!”, podemos não usar a vírgula.

Exemplos:

Sim senhor, lindo serviço!”

Extratos de “Vidas Secas” (1971), Graciliano Ramos, encontrados num artigo (AQUI):

“- Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se.

Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome, comendo raízes.”

“Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo.”
NOTA: Nos casos acima transcritos, não é necessária a vírgula, mas, considerando que, na origem, a expressão resulta da junção advérbio+vocativo, colocá-la não será erro. Se não tem a certeza se o segundo elemento é ou não um vocativo, vá pelo seguro e “virgule”!
Leia AQUI o post de ontem no meu outro blogue: “sim, senhor OU sim, senhora?
Abraço.
AP
 
 

Um comentário:

  1. Olá, tudo bem. Gostei das dicas do seu blog. Obrigado ter feito um [certo]contato.
    Volte sempre irmão!

    http://ricardosenee.blogspot.com.br

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